Filmes e Séries

Ray Fisher detalha problemas com a direção e produtora de ‘Liga da Justiça’: Gal Gadot e Patty Jenkins teriam entrado em conflito com Joss Whedon

Em entrevista dada nesta terça-feira (06), Ray Fisher, ator que interpreta o personagem Cyborg no filme Liga da Justiça, contou ao The Hollywood Reporter (THR) detalhes de suas acusações de racismo e má conduta profissional contra a direção e a produtora (Warner Bros) de Liga da Justiça (2017) que culminaram em uma investigação para apurar suas alegações.

O ator há tempos vem fazendo declarações, porém, só em entrevista recente falou abertamente do ocorrido de maneira bem mais específica que já feita antes (ainda que não de maneira mais explícita possível, pois diz temer por pessoas que podem perder seus empregos).

Entenda o ocorrido

Por volta de junho de 2020, Ray Fisher passou a acusar a conduta de tratamento do diretor Joss Whedon (substituto após o diretor original, Zack Snyder, deixar o longa devido ao falecimento de sua filha) e da produtora do filme como sendo antiprofissional. O ator, por meio de uma postagem em seu perfil oficial no Twitter, disse:

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”O tratamento que Joss Whedon deu ao elenco e à equipe no set foi grosseiro, abusivo, não profissional e completamente inaceitável. Ele foi capacitado, de muitas maneiras, por Geoff Johns e John Berg. Responsabilidade> Entretenimento.”

Ainda segundo o ator, Whedon, na hora de adaptar o trabalho feito por Synder e finalizar o filme, alterou completamente a trama do longa em si e do personagem Cyborg, retirando a complexidade que giraria em torno do relacionamento com seu pai e sua mãe cientistas e do seu trauma que culminaria em redenção, como visto na versão original do filme, versão essa que estreou em 18 de março de 2021. ”Isso representa que seus pais são dois negros com nível de gênio. Não vemos isso todos os dias.”, disse o ator ao THR.

Chris Terrio, roteirista do filme, contou à reportagem que Fisher estava, desde o primeiro momento, junto a ele e a Snyder na criação do personagem e que a visão de um ator negro era de suma importância para a construção de um personagem que também é negro. Deste modo, o projeto de filme para qual o ator havia se inscrito foi totalmente diferente do qual Whedon acabou entregando, tendo certa lógica Fisher ter questionado o diretor no que tange as alterações.

“Com um escritor e um diretor branco, nós dois pensamos que ter a perspectiva de um ator negro era realmente importante. E Ray é muito bom com história e personagem, então ele se tornou um parceiro na criação de Victor.”

O ator tentou dialogar sobre as alterações com o diretor posteriormente em uma ligação. Segundo o que o Ray disse à reportagem, ao passo que ele mal teria começado a falar, Whedon o interrompeu e respondeu com um ”parece que estou fazendo anotações agora, e não gosto de fazer anotações de ninguém – nem mesmo de Robert Downey Jr.” (as anotações seriam pontos criativos para o filme).

Segundo outras fontes da reportagem, o mesmo teria acontecido com Jason Momoa (Aquaman) e Gal Gadot (Mulher-Maravilha) ao questionarem pontos das novas linhas. Os representantes de Whedon e o próprio diretor se recusaram a comentar esse ponto quando questionados pelo THR. À Gadot, segundo uma testemunha da produção que foi ouvida na investigação, Whedon teria dito que ele ”era o roteirista, que ela se calaria e recitaria as falas, que ele poderia fazê-la incrivelmente estúpida no filme”.

Fisher então conversou com Geoff Johns (roteirista de quadrinhos e produtor na época) sobre os pontos criativos sobre o qual fazia objeções. Johns então teria dito a Whedon que seria problemático Cyborg sorrir apenas duas vezes no filme. Por meio de uma testemunha que participou da investigação, o ator descobriu que Johns e outros executivos, incluindo Jon Berg (co-presidente da DC Films na epoca) e o chefe do estúdio da Warner, Toby Emmerich, tiveram discussões nas quais disseram que não poderiam ter “um homem negro raivoso” no centro do filme. O porta-voz de Johns disse que, na realidade, o estúdio teria apenas determinado um tom mais brilhante para o filme e que as discussões se voltaram para ”adicionar alegria e esperança a todos os seis super-heróis”.

”Eles não queriam ‘um homem negro raivoso’. Acabaram com um motivado. Eu não vou a lugar nenhum. Responsabilidade > Entretenimento.”

Ao passo que Fisher passou a tornar cada vez mais públicas suas alegações, a produtora fez um comunicado negando todas suas acusações, atribuindo ao ator de não cooperar com a investigação. Ray Fisher diz que a produtora estava protegendo seus executivos (até mesmo os que posteriormente vieram, como, por exemplo, Walter Hamada, assumindo o posto de presidente da DC Films) e tinha a intenção de descredibilizar sua opinião como homem negro.

Justifica que, para isso, retardam a investigação, fazem anúncios ao mesmo tempo em que Fisher publica alguma acusação (no mesmo dia de uma das acusações, uma matéria sobre a produção do live action de Frosty the Snowman passou a ser anunciada pelo Deadline), entre outras medidas.

O ator, que busca da produtora responsabilidade sobre o ocorrido e que acredita que alguns ali não deveriam estar em posição de liderança, diz que, se não tiver sucesso, deseja ao menos fazer o alerta do que as pessoas podem realmente estarem lidando:

”Não os quero excomungados de Hollywood, mas não acho que eles devam se responsabilizar pela contratação e demissão de outras pessoas. Se eu não conseguir responsabilidade, pelo menos posso fazer com que as pessoas saibam com quem estão lidando.”

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